Eduardo Barbosa ▪ 17 set 2023
A proposta que muda a vida da família se
ergue sobre o sacrifício do homem mais velho da casa, o pai de Irene. Enquanto
ele vegeta doente em uma cama de beliche, Irene administra a carvoaria e a
miséria da casa e o marido dorme aqui e ali. O título do filme faz alusão
àquilo que garante a sobrevivência dos quatro, mas é também um símbolo de
destino de um homem que já não contribui mais para a manutenção do orçamento
familiar. No ato de virar carvão o pai se transmuta em dinheiro. O forno da
carvoaria, antes gerador de parcos recursos financeiros, torna-se o alívio da
casa enquanto expele a fumaça do pai pelas chaminés. A prosperidade chega à
galope. O marido compra motocicleta. O filho ganha celular.
Irene não se pune com a cegueira, como acontece
com Édipo no mito grego. Mas precisa, simbolicamente, cegar os vizinhos para
que não conheçam o destino do pai. Desconfiar e ser objeto de desconfiança é
seu castigo.
O trabalho de interpretação de Maeve
Jinkings é a joia do filme, fazendo vívidas as tensões e aflições da
personagem. Não menos primorosa é a interpretação do ator mirim que dá vida ao
seu filho, um personagem de falas incisivas e certeiras. O filme não se
preocupa em dar cabo das questões paralelas surgidas no tecer da história central,
ficam em aberto, mas a morte do pai exige outra vida em troca para fechar o
roteiro. E ela acontece.
Carvão é um filme para o espectador
refletir sobre os alicerces da família tradicional. Aqui ele se erige sobre
segredos e mentiras.
Elenco principal: Maeve Jinkings, César Bordón, Jean Costa, Camila Márdila, Romulo Braga, Pedro Wagner e Aline Marta.