Eduardo Barbosa ▪ 20 set 2023
O título do filme de Claire Denis, traduzido por “Minha terra, África”, é uma tentativa de fazê-lo mais compreensível. Mas é uma tradução preguiçosa e descuidada. O roteiro não discute o afeto da protagonista pela África. Coisa que este título “romântico” sugere. O interesse da personagem principal, interpretada por Isabelle Huppert, é o lucro. Maria vive em um país africano com sua família. São franceses brancos. Eles têm uma fazenda com plantação de café administrada por ela. A propriedade de maria é o cafezal, não é a terra.
Diante de uma guerra civil violenta em curso, os habitantes locais fogem. Os trabalhadores do cafezal deixam a fazenda. Maria faz de tudo para mantê-los trabalhando, mesmo sob risco de morte. Faltam “apenas” duas semanas para terminar a colheita, argumenta ela. Quando um dos capatazes e sua companheira estão partindo, Maria indaga sobre suas crianças. A francesa se importa tão pouco com seus trabalhadores, responde a mulher, que nem percebeu a retirada das crianças para um local seguro há dias. Mais uma evidência de que Maria só se importa com a extração de lucro da terra, por isso só vê seus funcionários como força de trabalho e não como famílias pobres e exploradas em sua própria terra.
Maria e seu filho
tentam, a todo custo, ser “da terra”. Uma terra negra, vale ressaltar, com uma
população miserável. É dos vestígios dessa presença francesa branca e colonizadora
que se extrai o título original “White material”: coisa de branco. Seus cabelos
são amarelos. O café produzido ali não é consumido pelos locais. As roupas de Maria
são europeias. A casa do sogro tem ar-condicionado. Usam isqueiro do tipo Zippo,
dourado. Andam em grandes motocicletas. Enquanto as casas dos locais são feitas
de barro, como se a terra se erguesse para fornecer-lhes abrigo, já as casas da família branca são todas de alvenaria. Casas altas, um desejo de
manter-se o mais longe possível do chão. Tudo isso são as coisas de branco do
título.
A protagonista troca a fuga
para um local seguro, no auge da guerra, pela possibilidade de lucro com a lavoura. Fica no meio da
batalha entre uma guerrilha anticolonização e a milícia de um governo que se
beneficia dos negócios com os brancos. A avidez branca pelos recursos naturais
africanos tem seu preço e Maria paga por ele.
Ano: 2009
Duração: 1h 42 min.
Direção: Claire Denis
Roteiro: Claire Denis, Marie N'Dyaie, Lucie Borleteau
Origem: França, Camarões
Elenco principal: Isabelle Huppert, Christopher Lambert, Isaak De Bankolé, Nicholas Duvauchele, William Nadylam.