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10/03/2024

Vidas Passadas de Celine Song é um delicado conto de amor a encantar com sua trama livre de clichês do gênero

Hae Song toca a vida com a memória de um amor do passado na ponta dos dedos, uma memória viva, memória pura. Já para Nora talvez esse passado ainda não se atualizou com reencontros suficientes no presente para gerar a quantidade certa de camadas de In-Yun para juntá-los. Seria preciso mais vidas passadas gerando memória-hábito para construir um presente para a junção dos dois? Ou o momento certo chegou?


Eduardo Barbosa ▪ 10 mar 2024



O filme conta a história de Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Yoo Teo). Eles nasceram em Seul, na Coreia do Sul. E ali viveram um amor de infância. Até que a família de Nora emigrou para o Canadá e seu primeiro amor ficou no passado. Depois ela se mudou para Nova York e construiu uma carreira como dramaturga. Décadas após deixar sua terra natal, Nora descobriu por acaso seu antigo namorado de infância em uma rede social de seu pai. Refizeram o contato perdido e mantiveram um relacionamento à distância. Mas a moça não levou as coisas adiante e pediu um tempo. Nesse hiato conheceu Arthur (John Magaro). Entre afinidades e boas doses de pragmatismo, se casou com ele para obter uma cidadania americana.

Hae chega em Nova York alguns anos depois que Nora já está bem estabilizada. A chegada do rapaz trás uma espécie de afetividade incômoda. Nora mantêm alguma distância apesar de receber Hae com gentileza. Celine Song sabe criar essa sensação com destreza por meio de enquadramentos nos quais os personagens se localizam nos cantos da fotografia. Nora tem sentimentos por ele. Mas o tempo parece hesitar em aproximá-los. Como se as rodas do destino ainda não tivessem girado o suficiente para fechar o terceiro ato do casal.

Ela lhe apresenta a cidade. Leva-o a lugares aos quais nunca esteve com o marido e Arthur se incomoda. Cria vivências exclusivas para um velho amor que está sempre se renovando. Tudo é único com Hae Sung. Os três se reúnem para jantar. Arthur fica a sobrar entre os tantos assuntos tecidos entre Nora e Hae em um idioma que ele conhece pouco. Mas Arthur é um homem afável. Há alguma insegurança nele, mas não há agressividade, não cede a impulsos de ciúme. Mais tarde ele acaba trazendo à baila a própria dúvida sobre os sentimentos da companheira em relação ao visitante. É uma conversa madura. Celine jamais cai nos clichês dos contos de romance comuns. Eles nunca brigam, apenas conversam. Hae Song é tomado por Arthur como uma parte da história da companheira. Aceita a explicação de que ele não é um rival. Essa maturidade dos personagens gera uma das mais sublimes cenas do cinema romântico contemporâneo nas últimas cenas. Há muita beleza nele ao amparar a dor dela.

Arthur, interpretado pelo ótimo John Magaro de First Cow (2019), tem a construção absolutamente certa. E Greta Lee e Yoo Teo tem a química adequada para a composição do casal desencontrado. A dosagem de acanhamento e desinibição aplicada aos dois personagens nunca os fazem soar incoerente. Junta-se a isso a direção competente de Song e o resultado é um belo e original conto de amor.



Vidas Passadas

Título original: Past Lives
Ano: 2023
Duração: 1h 46min.
Direção e roteiro: Celine Song
Elenco: Greta Lee, Yoo Teo e John Magaro
Origem: Coreia do Sul, EUA