Um pescador retorna para
casa após mais um dia de trabalho e se depara com a ausência de seus dois
filhos. Foram levados pelos paramilitares. José, o pescador, segue as pistas e
elas o levam ao rio ali perto de suas terras. As águas são usadas por esse
grupo extremista para descartar corpos de camponeses colombianos, como José e
seus filhos. Burlando a interdição da navegação, José embarca em sua canoa e
parte em busca dos filhos. Enquanto é aprisionado, torturado e fugitivo, José
carrega consigo a fé de que pode trazer de volta seus desaparecidos.
Entre 1997 e 2002 a AUC
- Autodefensas Unidas de Colombia – operou uma espécie de massacre na
Colômbia, provocando uma contrarreforma agrária e deslocando violentamente as
populações rurais. O resultado foi uma concentração de terra apoiada por
latifundiários, pecuaristas, narcotraficantes e partidos políticos. É com esse
grupo que José precisa lidar para reaver os filhos.
A trajetória do pescador
por um rio lotado de corpos soa como um alerta sobre a face verdadeira da
militarização da vida civil. A interpretação de José Lobo, dando vida ao
protagonista, é precisa. Seu pescador é um Rambo-pai em luta angustiada pelo
manejo do luto duplo enquanto lida com sua perda ambígua contra uma máquina de
fazer defuntos em um rio-cemitério. As cenas finais são de alto impacto.
Sobretudo aquelas nas quais o pescador leva consigo o pedaço de um corpo. Não é
do filho. Mas ele precisa agarrar qualquer pedaço simbólico dos filhos para
manejar o luto. É um filme duro, lançado quando governos extremistas ascenderam
ao poder nas Américas.
Prepare o lencinho e
assista.
Ano: 2019
Direção e roteiro: Nicolás Rincón Gille
Elenco principal: José Arley de Jesús Carvallido Lobo e João Batista
Origem: Colômbia
